O Brasil atual passa a imagem de um matadouro. Vemos mortes por todos os cantos, becos, lugares escuros e sem saída. Tanto nós brasileiros que vivemos dentro, como os de fora que prestam atenção no que acontece pelas bandas de cá. É morte nas favelas, que já ocorre há mais de um século e já está banalizada como política de segurança, é morte nos hospitais pela crise eterna na saúde pública, é morte pelo desmatamento e poluição dos rios. Enfim, a sensação que temos é que as mortes estão nos asfixiando como aos pacientes de Covid-19 que ficam semanas respirando artificialmente e, certamente, terão sequelas. E nós também teremos pelos desmandos, desvios e destruição do governo Bolsonaro/Paulo Guedes.
O projeto político do presidente da República, de Paulo Guedes e dos seus ministros é matar o que existe. É sufocar, retirar tudo do lugar e colocar pelo avesso – o conhecimento, a ciência, a pesquisa, a natureza exuberante, os cidadãos, as leis, a Constituição, o debate; e instituir o poder do cala a boca à força, do prendo e arrebento e mato porque acredito que deve morrer, afinal os criminosos e ociosos têm que ser abatidos, neutralizados. Não existem as instituições republicanas da Justiça, o Congresso Nacional, a fiscalização, os demais poderes que garantem o equilíbrio da balança democrática.
É um Brasil irreconhecível. Talvez possamos lembrar dele na época colonial como se vivêssemos em outras vidas, fizemos uma viagem no tempo, aportamos nas praias e descobrimos aquele bando de silvícolas nus e "indolentes", mesmo escravizados e assassinados, com suas mulheres violentadas produzindo uma mestiçagem de serviçais, machista. Depois trouxemos os negros "fedidos' e eram fortes para mão-de-obra escrava, afinal o cérebro era pequeno, os homens livres e pobres serviam através de práticas corruptas para alimentar a elite hierárquica que vivia para enviar o ouro, a prata, a cana de açúcar, o café para a metrópole e se locupletava com os desmandos do açoite e da chibata.
Olho para a situação da Universidade onde fui professor por mais de 40 anos e ainda sou colaborador e vejo mais destruição. Estes senhores querem matar a UFRJ. E matar a UFRJ é matar uma coletividade de produção de presentes e futuros. O assassinato da UFRJ é uma sofisticação exterminadora que possui por autoria a grife de Paulo Guedes. Asfixia o IBGE e o IBAMA com contraordens e verbas cortadas. Agora, a UFRJ e suas coirmãs sofrem uma asfixia pelo corte de verbas; dessa forma, há a destruição da possibilidade de existência da vida institucional, científica, tecnológica, artística, e profissionalizante.
Em pleno século XXI, com a inteligência artificial, com a tecnologia 5G batendo à porta, um mundo que vive globalizado - tanto que um vírus numa cidade da China se espalhou por todos os cinco continentes. Como podemos imaginar a vida sem as universidades, sem o trabalho árduo, muitas vezes insano das pesquisas, dos debates e dos estudos para a produção de conhecimento. É destruir uma das melhores partes do país, do existir e querer ser brasileiro, onde possuímos respaldo e certificação pelo mérito do trabalho internacionalmente.
Foi uma semana complicada com acusações, discussões e há pouco a Adufrj soltou uma nota dizendo que após intensas mobilizações contra os cortes da universidade, o governo decidiu voltar atrás. Uma parte importante do orçamento, em torno de R$ 152 milhões, deixou de ter que esperar pela aprovação do Congresso Nacional para ser liberada, em função de uma portaria do Ministério da Economia expedida hoje: dia 13/05/21. No entanto, a minha Associação de docentes ressalta ter a vitória sido parcial justamente pelo fato de faltar R$ 41,1 milhões do montante. Além, é claro, de que a universidade precisa de muito mais recursos para se manter ativa e com qualidade para a produção de conhecimentos.
A UFRJ está como boi brabo banhado no corredor de um matadouro, com Paulo Guedes como capataz.
Por Paulo Baía*
* Paulo Baía é sociólogo, cientista político e professor da UFRJ
Fonte: Quarentena News/Facebook